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terça-feira, 20 de novembro de 2007

O Dia Em Que Morri

Não sei ao certo o dia em que morri. Acho que foi no dia em que percebi que não percebia mais as coisas que estavam acontecendo. Um belo dia não senti a partida de ninguém. Não chorei pela dor de ninguém. Não senti mais dor senão a dor da morte, aquela que não permite caminhos outros senão o do fim. No dia que ninguém mais acordava. No dia em que ninguém mais sorria. No dia que ninguém mais me tratava. Mas só vi mesmo que morri hoje. Estou morta.
O pior de estar morto é que nem todos estão mortos como você. Tem muita gente vivendo e você espera o dia ansiosamente em que voltará a viver. Não chega. Mas quem não espera desespera. Então calmamente você continua morto. Por que a vida não espera eu voltar a viver pra prosseguir vivendo? Por que a vida acontece além de mim? Por que eu tenho que ver a vida passar sem sentir nada além do vazio da morte?
Tenho sentido a necessidade de vida. Lamento que tentativas falhem. É realmente a coisa que posso fazer, lamentar. Não me sinto pronta pra me lançar outra vez na vida e nem em silêncio me questionar porque estou morta. Só vivo a morte e gostaria que todos morressem, pra quando a gente voltar eu não ter perdido nada. Esperança vive em mim. Que bom. Imagina se a morte de agora fosse o sim.
Não é o fim a morte de agora? Que morte é o fim? Nesse momento nada acontece senão a morte. Nada importa. Importa sim. O desconforto importa. Estar desconfortável é o incômodo de hoje estar morta. Acho que é o cheirinho de defunta. Tô apodrecendo, afinal. Algum cheiro tem. E é cheiro de quê? Será o cheiro o desconforto. O mendigo se contorce com seu cheiro? O mendigo te distorce com seu cheiro. Nenhum mendigo está morto. Morto? Nenhum mendigo. Meu cheiro me incomoda porque estou morta? Meu cheiro me incomoda? Eu me incomodo? Vou ficar.
Amanda Doria Rubra - 01/11/07; fonte: www.anjosdecarasuja.blogspot.com

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